Nesses período de grandes mutações da civilização um dos mais árduos
desafios encerra-se no campo das religiões. O mundo não suporta mais
uma ideia de um Deus distante e severo, quase indiferente ao que somos
em nossa fragilidade. daí, creio, vem a grande angústia de muitos que
seguem religiões mas não conseguem encontrar serenidade, segurança,
acolhimento. O Deus severo de antigamente ainda está presente nos
pesadelos de muitas almas. Ao invés de um Deus acolhedor, amigo e
protetor, amor infinito e compreensão incondicional, um senhor
inatingível.
Essa angústia ajuda a entender porque um número cada vez maior de
pessoas vem abandonando as religiões tradicionais e buscando a
espiritualidade à sua maneira, sem amarras teológicas. Buscam maior
leveza e uma experiência mais profunda, íntima, com o Criador. Algo
dentro do ser humano diz, nos dias atuais, que Deus não é propriedade de
instituições organizadas e nem de representantes específicos,
ordenadores do acesso a energia misericordiosa que rege a vida. Os
parâmetros da espiritualidade ganham maior largueza cada dia que passa. O
ser humano vai se encontrando com o que poderíamos chamar de religião
natural.
É preciso que as tradicionais religiões tragam Deus para a
experiência comum, para a proximidade com o coração humano. E
efetivamente, Ele não está distante. sentimento de inferioridade e o
atávico senso de pecado colocou-nos muito distante de Deus. Sim, pois
Ele nunca se postou longe de nós. Espiritismo, exatamente por não ser
uma religião institucionalizada, apresenta o potencial e a prática de
trazer esta realidade sublime para nossa experiência de relação com
Deus. E é preciso cuidado para não alimentarmos, equivocadamente, por
atavismo, esse distanciamento, que não é proposta do espiritismo.
Sentir Deus tocável, próximo, é fundamental para entendermos a
grandeza da vida. A chamada experiência mística dos grandes espíritos
que passaram na Terra se caracteriza pelo fato deles terem sentido que
Deus estava tão próximo deles que poderiam "tocá-lo", tal a percepção de
proximidade e segurança que sentiam. Por humildade, não acreditavam que
estivessem indo até Deus. Sentiam que o Criador, em sua Misericórdia,
se chegava à suas dores e pequenez. O amor de Deus incondicional se
caracteriza por esse estar presente em nossas vidas.
Quando penso em Jesus tenho a sensação de que não faz sentido ficar
pensando em sua volta pois ele nunca se foi. Deveria ser, para todos os
que o estudam, a luz presente cotidianamente em nossa vida. Ele, como
governador da terra, não poderia ficar distante de nós. A humanidade
está sob sua tutela, embora saibamos que ele tem seus prepostos que
auxiliam nas atividades. O amor, porem, não se distancia, não é mesmo?
As religiões começam a valorizar a espiritualidade muito mais que as
práticas externas. Umas mais lentamente que outras. Terão que fazer
esse movimento sob pena de não atenderem as profundas necessidades das
pessoas. Estamos caminhando para a relação com Deus em espírito e
verdade no templo do coração. Uma relação mais íntima e leve, mais
amorosa e compreensiva. Aos que sofrem, isso representa maior sensação
de acolhimento, ternura e consolo; aos que buscam satisfação intelectual
em relação ao divino, representa mais amplo entendimento da grandeza da
vida e compreensão mais larga de como esse tão decantado Amor
Incondicional funciona. Sim, esquecemos, habitualmente de que Deus é o
Amor sem impor condições. A incondicionalidade de Seus Amor rege,
inclusive, aquilo que chamamos Sua Justiça. É ele, o Amor Incondicional,
que sintetiza Suas leis, harmonicamente vibrando entre justiça e
bondade, misericórdia e causa e efeito, ternura e responsabilidade.
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